Chromatica'
tem Lady Gaga em volta às origens com letras diretas e eurodance
escapista
No
sexto álbum da carreira, cantora americana
retorna ao pop eletrônico mais frenético do
final dos anos 2000. Ela convida Elton John,
Ariana Grande e Blackpink em álbum sem sutilezas
Dá
para resumir o segundo álbum de Lady Gaga,
"Born this way", e este
recém-lançado "Chromatica" do
mesmo jeito:
"É
feito por uma fã de música eletrônica que canta
letras às vezes escapistas e outras vezes com
mensagens importantes, mas sempre diretas. Na
parte musical, não tem meio-termo, é um
eurodance sem sutilezas".
O
retorno ao pop mais frenético do final dos anos
2000 faz valer o uso do clichê "uma volta
às origens". Gaga disse que queria fazer um
álbum para trazer alegria para quem curte música
pop. Queria uma trilha para se esquecer dos
problemas. Como se fosse possível. Mas ela tenta.
Nesta
missão, Gaga tem auxílio de dois DJs (Axwell
e Skrillex) e de mais seis produtores. Mas
quem comanda a produção mesmo é um cara chamado
Michael Tucker, um americano de 29 anos que usa o
codinome BloodPop.
Ele
produziu cinco músicas do "Purpose" de
Justin Bieber e outras cinco do "Rebel Heart"
de Madonna. Também ajudou Gaga a criar
"Joanne", álbum anterior dela, de
2016.
BloodPop
estava com Gaga quando ela quis fazer um som mais
orgânico, passando pelo country e pelo soul. E
volta a ser convocado agora, em uma proposta quase
oposta. E, acredite, a parceria fluiu bem nas duas
vezes.
'Chromatica
I'
É
a primeira das três faixa que dão nome ao disco.
Assim como "Chromatica II" e "Chromatica
III", é instrumental, meio cinematográfica,
bem no estilo vinhetinha estilosa mesmo.
'Alice'
Letra
e título fazem menção a "Alice no País
das Maravilhas". "Meu nome não é
Alice, mas eu ainda procuro a terra das
maravilhas", canta Gaga. Tem um crescendo bem
feito no arranjo, os beats somem e voltam. Talvez
seja a mais inspirada na eurodance anos 90, ou a
popular "música para malhar". Tudo
certo. Você fica meio suado só de ouvir.
'Stupid
Love'
É
a mais pop de fórmula, com a estrutura mais
pensada, essa alternância que gruda. Primeiro vem
o vocal, depois o vocal hiper modificado. Uma
estética que é a cara de Max Martin. Esse
produtor sueco ajudou a inventar o som de Britney
Spears, Backstreet Boys, Kelly Clarkson, Pink...
Essa ideia de ação e reação, em looping, faz
"Stupid Love" colar bem. É a única que
ele compõe e produz com Gaga e também a única
com uma estrutura mais simples, um arranjo mais
melódico, menos fritado.
'Rain
On Me'
Tem
a voz e o talento de Ariana Grande. E é uma voz
mais suave, numa performance sempre menos
exagerada do que a da Gaga. Por isso, as duas
combinam. É aquele morde e assopra básico.
Tirando "Stupid Love", talvez seja a
mais assobiável.
'Free
Woman'
Parece
que vai ser mais cadenciada, mas estoura e vira
uma massaroca eletrônica. O maior destaque fica
por conta da letra. Ela tem a ver com o abuso
sexual que ela sofreu de um produtor, quando tinha
19 anos. É ótimo ouvir Gaga cantando que se
curou, que buscou ser uma mulher livre com ajuda
da música e da dança.
'Fun
Tonight'
Essa
é uma das mais importantes do álbum. É como se
fosse o editorial de "Chromatica": ela
parece se perguntar, de forma melancólica, se
vale a pensa ficar dançando com tanto para se
preocupar. Gaga fala de si mesma falando de todo
mundo: às vezes é difícil usar o poder das
batidas para se distrair. Musicalmente, é bem
teatral. Todo esse drama da letra aparece no
arranjo. Música honesta.
'911'
É
uma das melhores do álbum, não só pelo arranjo,
com uma simpática Lady Gaga robô cantando, mas
também pela sonoridade retrô pseudo-futurista
que sempre tem seu charme. Gaga canta sobre um
pedido de socorro e fala sobre a vontade de querer
ficar sóbria. As letras dela sempre foram
diretas, sem inventar muito. Então, não deveria
incomodar um verso do tipo “Eu sou minha maior
inimiga, liga logo pro 911”. É o estilo dela.
Se você não gosta, não é agora que vai passar
a gostar.
'Plastic
Doll'
"Plastic
Doll" é a única música que tem Skrillex
entre os produtores. O DJ americano, nome que
surgiu com o sucesso do dubstep, reinventou a
carreira do Justin Bieber. Agora, é um dos que
assina a melhor faixa de "Chromatica".
É melódica, exagerada, é Lady Gaga raiz. E é
boa demais. A letra é sobre objetificação da
mulher.
'Sour
Candy'
Com
participação do grupo feminino de K-pop
Blackpink, Lady Gaga faz um aceno para o pop
coreano. É mais uma conquista do estilo, que
está em todo lugar e agora também aparece no
álbum da Lady Gaga. Alguns "haters"
correram para dizer que o arranjo é copiado de
"Swish Swish", da Katy Perry. Mas uma
comparação mais atenta mostra que isso se trata
de um exagero. A letra, por sua vez, é empoderada
e divertida. Elas falam que são azedinhas e doces
mesmo. E não vão mudar isso.
'Enigma'
Foi
uma das primeiras músicas escritas para este
disco, e é um electro pop bem convencional, com o
vocal característico de Gaga. “Enigma”
também é o nome do show que ela apresentou em
Las Vegas, entre 2018 e 2020.
'Replay'
Depois
da leveza da música anterior, na letra e no
arranjo, a Gaga volta ao eurodance mais fritado e
a uma letra mais pesada. São imagens bem fortes:
as cicatrizes da mente em um replay infinito, os
monstros internos torturando ela. Tudo é gritado,
como se ela tivesse cuspindo.
'Sine
from Above'
Tem
a presença de Elton John, que virou um amigo e
mentor de Gaga. Ela vem dizendo que o cantor
britânico deu muita força nos últimos anos,
quando ela teve problemas de saúde mental. Essa
é do grupo das mais teatrais. Eles cantam
separado, cantam intercalando, cantam juntos, as
batidas vêm e vão. É tudo bem exagerado.
Inclusive a letra, sobre ser curado por um sinal
que vem do céu.
'1000
Doves'
Um
ouvinte mais exigente pode pensar que esse final
de álbum piora um pouco, perde um pouco o rumo.
Ou encontra um rumo mais mítico, com Gaga se
salvando amparada por imagens impressionantes.
Depois do sinal, do chamado, ela canta sobre mil
pombas. Ou seja, ela parece encontrar muita
paz...
'Babylon'
O
álbum termina com um climinha "começo da
carreira". Parece música de desfile de moda
dos anos 90, ou de dança vogue. Assim como o
resto do disco, é super poperô academia. E
hiperbólico. Tem o pop sussurrado, sutil, muito
ouvido nas paradas, e tem o pop "Chromatica",
de sutileza zero. Aos sussurros ou aos berros,
você vai estar dançando.