Fábio
Dorce deixou cavalos e optou pela maquiagem há 15
anos. 'Ambiente rústico dos rodeios não impede
presença de peões gays', diz

Há
15 anos, Fábio Dorce trocou as rédeas e as selas
da montaria em cavalos por tesouras, escovas,
pincéis e paletas de sombras. "Saí do
rodeio para mexer com beleza por necessidade, mas
sempre fiz as coisas por amor e é assim que
encaro minha profissão hoje", diz o ex-peão
e maquiador de São José do Rio Preto (SP) que
afirma não sofrer preconceito por sua escolha. O
fato facilitou até mesmo assumir-se gay. E ele
ainda revela: “Tem muito peão gay e há
respeito.” A substituição dos bretes pelos
salões de beleza não foi de repente. Por três
anos, Dorce encarou os rodeios no interior de São
Paulo e de Minas Gerais, mas sentiu que para ele
não havia muito futuro nas montarias,
principalmente depois que a tropa de animais que
ele comandava em Mirassolândia (SP) desde a adolescência
foi
vendida.
Até
então, Dorce havia sido finalista em apenas uma
competição e conquistado o quinto lugar.
"Foi uma paixão por ter sido criado nesse
meio, mas não dava dinheiro e precisava seguir em
frente", lembra. Ao deixar o mundo das
montarias, Dorce ainda ingressou em um curso
técnico de agropecuária em uma escola que
funcionava como internato. Lá ele executou todos
os tipos de trabalho. “Cheguei a lavar banheiro
para me bancar", diz.
Depois
de formado ele passou a administrar uma fazenda de
frangos para corte e carneiros em Pindorama (SP),
mas precisou largar o emprego para cuidar da mãe,
que sofria de complicações de diabetes e
precisou amputar uma das pernas, pouco antes de se
separar do pai dele. "Voltei para a casa dos
meus pais e comecei a trabalhar em lojas de
shopping e era palhaço fazendo animação em
festas infantis aos finais de semana", conta.
Foi nessa época que ele resolveu deixar o
trabalho no comércio e aceitar a ajuda de um
amigo, que lhe ofereceu um emprego como auxiliar
de cabeleireiro em um salão de beleza.

Ele
topou e com essa oportunidade, o ex-peão sentiu a
diferença entre o ambiente rústico dos rodeios e o
mundo delicado da beleza. "Eu encostava nas
clientes e elas reclamavam da minha mão pesada e
perguntavam se eu estava cuidando de cabelos ou
cavalos", lembra. Dorce trabalhou seis anos com
tesouras e escovas até ganhar de uma cliente um kit
de maquiagem que custava R$ 5 mil. Seu primeiro
desafio como maquiador foi um aniversário de 15 anos.
"Fui sem saber nada e depois me convidaram para
trabalhar em um dos maiores salões de beleza de Rio
Preto".
Com a maquiagem, o ex-peão conseguiu
realizar um de seus grandes sonhos: participar da
Festa de Peão de Barretos, como maquiador oficial das
candidatas aos títulos de princesa e de rainha do
rodeio – neste ano ele produziu as beldades pela
terceira vez consecutiva. Em 2011 e em 2012, o
ex-peão cuidou da beleza das vencedoras por todas as
noites da festa. "Não cheguei pelo fundo dos
bretes, mas cheguei pela frente, trabalhando e
conquistando meu espaço", diz,
orgulhoso.
Peão
gay
O
encontro com a nova profissão após deixar as
montarias marcou a vida de Dorce porque ele pode
definir o que sentia por homens e por mulheres. O
ex-peão se descobriu gay. “Sempre tive muitas
namoradas enquanto montava e nunca havia me
interessado por homens, mas, ainda nesta época um
amigo peão se interessou por mim”, conta. Segundo o
ex-peão, apesar do mundo dos rodeios ser conhecido
como um ambiente bruto e rústico, há espaço para
gays nos bretes. "Tem muito peão gay e existe
respeito. No rodeio é o macho que monta, mas dali pra
fora é outra coisa e ninguém tem nada com
isso", enfatiza. Entretanto, Dorce afirma que
ainda há muita preocupação entre os peões. "O
que muitas vezes acontece é que os peões preferem
preservar o nome dentro do meio".
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